domingo, 24 de junho de 2012

O Direito de Morrer




Existe o direito da morte?

Muitas vezes, acreditamos que a vida é o limite de tudo, que não pode ser moeda de troca para nada e que é divina. Não podemos de forma alguma profanar a mesma, pois nada é maior do que ela. E eu realmente acredito nisso, nada é mais importante do que nossa vida. Portanto, nós temos o controle e responsabilidade por tudo que acontece nela. E tendo essa responsabilidade, o direito da morte é parte disso?

Na Suiça, existe uma organização chamada Dignitas, que trabalha com encomendas de pessoas para a pratica de suicídio assistido. Um de seus logos é "Viver com dignidade. Morrer com dignidade".

Em algumas entrevistas com pessoas que "encomendaram" a própria morte, elas explicam o porque da decisão:

"A ateromatose é imprevisível. Posso ter um derrame dentro de um mês ou quinze anos, e perder a consciência de quem sou para sempre.Antes, eu era muito ativa. Hoje em dia, tudo é devagar por causa dessa doença. E eu tenho pavor de perder o controle do meu cérebro.Antes de morrer, minha mãe passou três anos delirando num leito de hospital, sem reconhecer as pessoas e falar coisa com coisa. Foi terrível"


"Aproveitei minha juventude, peguei muito sol, viajei pelo mundo, namorei, casei,  me divorciei e trabalhei duro. Não me sinto uma suicida. Jamais pularia da janela. Cada um de nós é diferente e tem suas crenças. O que serve pra mim pode não servir pra mais ninguém. Respeito isso, não sou dona da verdade, mas sou dona da minha vida."

Para uma ex-atleta que ficou paraplégica após um mergulho em alto mar:

"Centenas de médicos testam novos métodos e técnicas de cirurgias pelo mundo, cobram caro e não oferecem resultados"


"Um cientista brasileiro, quer usar robótica para fazer um tetraplégico dar o pontapé inicial na copa de 2014. Isso não me anima, não quero usar um exoesqueleto e sair na rua igual ao Robocop."


"Eu não sou uma pessoa depressiva ou bipolar, nunca tive tendência para isso.Tento viver minha vida, saio bastante com meus amigos e família, mas tudo é difícil."


"Eu não consigo nem comer e escovar os dentes por conta própria.É muito penoso, passivo. Como posso esperar viver uma vida longa e plena se sempre estarei dependendo de alguém? É impossível, inviável e intolerável. Eu tinha uma vida plena até o dia do meu acidente. É fácil me dizer que devo tocar a vida. Não. Eu posso desejar uma qualidade de vida que não tenho e não sou obrigada a aceitar aquilo. É difícil para quem esta de fora entender. As pessoas são egoístas, só pensam no quanto elas vão sofrer quando você for embora. Não conseguem ter idéia do seu sofrimento." 


Em muitas situações, nós não temos o controle absoluto sobre o que acontece com a gente, temos sim o controle sobre o que fazemos quando algo acontece a nós.

Muitas vezes a "vida" nos coloca em uma situação que não pode ser desfeita, que temos que agir diferente, precisamos nos adequar com a nova situação e esquecer tudo o que fazíamos anteriormente, pois pode nunca mais voltar. Somos impedidos de viver como antes e ainda de acordo com os padrões e regras da sociedade.  Temos que nos desligar de tudo o que fazíamos anteriormente.

Porém, um dos maiores "controles" que acreditamos possuir é o de julgar as ações e desejos das pessoas.

É sinônimo de fraqueza a decisão do outro ser contraria ao que eu e quase todo o mundo acredita?

"É desrespeitoso, pois a vida é a benção divina que deve ser respeitada a todo o custo!"

Essa ultima frase é praticamente o auge da hipocrisia, pois no que vemos  dentro do nosso próprio dia a dia, estamos respeitando a nossa vida e a dos outros?  Basta ligar a tv, ver um site, sair na rua. E todas as horas estamos vendo alguém e muitas vezes nós mesmos, ferindo a dignidade de alguém, sem nem termos conhecimento disso. Mas eu me encontro no direito de julgar o outro quando a opinião é contraria ou diferente daquilo que acredito.

O que acredito é a verdade? Existe uma verdade absoluta? Não, existe apenas a minha verdade, o que acredito. E tenho que entender e respeitar a vontade do outro. Posso concordar ou não com o "Direito da Morte", mas em momento nenhum, tenho o direito de julgar a vontade do outro através da minha vivência, e não através da dele. 




Texto da matéria sobre a clínica na íntegra


3 comentários:

  1. Que triste, né!!!!
    Uma pessoa que imputa uma terminologia sem ao menos o ciclo natural está cessando... terminalidade de vida é qdo se esgotam as possibilidades de resgate das condições de saúde e a possibilidade de morte próxima parece inevitável e previsível; porém não é o caso desse relato de uma pessoa que chamados estar na fase da raiva da vida qto a sua condição atual, houve uma alteração importante na vida dela. isso chamamos de efeitos da perda seguido de período de luto qto ao seu passado. Segundo Kluber-Ross, esse estágio faz parte desse processo de luto.
    Para um caso como dessa atleta acredito ser fundamental a escuta de um profissional para que possa ter uma compreensão entre uma vida ideal e a vida real, psicterapia pode ajudá-la a superar o luto e com o tempo chegar ao 5 estágio que é de aceitação, assim pode desistir da idéia de suicidio encomendado e seguir com vitalidade e produtividade a vida com resignificação....

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  2. Correto, Andreia.
    Através de uma mudança na vida, a pessoa tem que passar pelo estágio de luto do que era para o que é. E para isso ela necessita buscar todas as alternativas possíveis para atravessar esse processo e poder recondicionar sua vida dentro de sua nova condição.

    Porém, me abstenho de uma analise psicológica dentro desse post. Até porque as pessoas são diferentes, cada uma sente e age de forma única. Nem todos verão isso como uma forma de "fuga da realidade".

    Para mim, existem situações extremas como anomalias genéticas, canceres entre outras que realmente são pesadas, mais ainda para quem não possui conhecimento sobre suas emoções. Não estou dizendo que sou a favor nem contra o "Direito de morrer". Acredito que todos deveriam auxiliar ao máximo o bem estar do outro, porém a única ação que coloco em pauta é sobre a decisão tudo na vida ser unica da pessoa, não adianta eu querer seu bem se o seu bem não for o que eu quero. Espero que tenha ficado claro.

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  3. "Em muitas situações, nós não temos o controle absoluto sobre o que acontece com a gente, temos sim o controle sobre o que fazemos quando algo acontece a nós."
    Eu sou realmente contra o suicídio, acho que independente do que tenha acontecido desistir não é a solução - e aqui fala a garota que já tentou se matar duas vezes :P
    Mas acho que essa minha oposição parte mais de um pressuposto religioso... Não vou a igreja todo domingo, aliás, faz uns seis meses que não vou; não oro antes de ir dormir e nem saio pregando a palavra de Deus pelas esquinas, mas se tem uma coisa que sigo a risca é isso de não me matar. Embora possa não parecer, passo por muitas situações horríveis, traumas de infância e tudo mais, mas desistir... Bom, isso ainda não é pra mim...
    Enfim, ótimo blog, já estou seguindo.
    Deixo aqui o link de meu blog caso queira retribuir a visita e me seguir também
    Gostaria de te convidar a participar de um grupo de divulgação de blogs no Facebook. O espaço é organizado, e tem uma galera muito gente boa e disposta a conhecer bons blogs assim como o seu. Te espero por lá. Até mais.
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    P.S.: Adorei o nome do blog e a reflexão que você fez sobre esse tema polêmico. Parabéns.

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